BlogBlogs.Com.Br O Troco de Risos: Conto - Tormento Cotidiano

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Conto - Tormento Cotidiano

Inspirado em um certo amigo meu, espero que gostem leitores (todos os 3 e meio!).

----------

Saiu do trabalho às pressas, trombou com um tanto de gente, pediu algumas desculpas rápidas, não havia tempo, Desculpa, desculpa, e saiu do prédio num segundo. Encontrou um amigo, sorriu amarelo, Olá, perguntou da família, ele disse que perdeu o pai, Mas justo agora tinha de morrer este velho, tenho tanta pressa, pensou, alguns abraços, Conte comigo pra tudo, adeus, e lá se colocou o rapaz a voar outra vez, cada vez mais alto e mais rápido.

Alcançou o carro, Chaves, chaves, tremia como se a morte quisesse lhe beijar, e era isso o que aconteceria caso não chegasse logo em casa. Acelerou, e acelerou, e diminuiu, o engarrafamento diário da Marginal, calculou e concluiu que não agüentaria, seria ali mesmo, como último esforço tentou relaxar a mente, Quem sabe não passa, ligou o rádio, tocava rap do momento, ou coisa assim, trocou, a boa e velha Música Popular Brasileira, fechou os olhos e conseguiu relaxar por alguns segundos, mas logo voltou a sofrer, quando o corpo recomeçou o tormento.
Chegou em casa, enfim, já estava ele entre Este e Aquele mundo, agia mais pelo instinto do que por qualquer outra coisa, a visão era turva e as pernas tremiam.
Entrou no elevador, junto de uma senhora que carregava suas compras com um certa dificuldade, apertou o décimo andar e não se sentiu mal por não ajudá-la, era ele quem precisava de ajuda, afinal. 
O desespero o presenteou com um sorriso, que tinha um certo quê de loucura, a dor tem dessas coisas, às vezes é tão intensa que muda, repentinamente e vira graça, ainda que por alguns instantes.
Por que, Senhor, por que, pensava, quando o elevador chegou ao seu andar. Correu.

Abriu a porta com violência, passou pela cozinha do pequeno apartamento, chegou à sala de estar e viu que tinha visitas, Olhe quem veio nos visitar, Amor, disse sua esposa enquanto puxava seu braço, que ele puxou de volta com pressa e disse, já em movimento, Os senhores me dêem licença, que preciso ir ao banheiro. 
Caminhou devagar o esperado caminho, render-se-ia enfim à natureza. Ainda ouviu a mulher começar a contar de seus problemas de intestino quando entrou e trancou a porta do banheiro.
----------